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Saiba quem é a empresária que fez sucesso com a “moda penitenciária”

Com a prisão do marido, Camila Bezerra começou a vender roupas nas filas de visitação aos detentos e hoje tem loja física de sua marca; conheça a história

Por Hanna Rahal

Camila Bezerra
Camila Bezerra
Reprodução/ Instagram @bazardabez

Presos têm família. Em dias de visita, mães, filhas, amigas e esposas enfrentam filas quilométricas para poder ver seus amados, levando de peças de roupas a itens de higiene. Muitas enfrentam viagens de horas para conseguir o encontro.

Nesse cenário improvável, Camila Bezerra, de 32 anos, encontrou uma oportunidade de negócio: roupas para esposas de presidiários

Moradora da região do Canindé, bairro na zona norte de São Paulo, e mãe de duas filhas, ela compartilhou sua trajetória em entrevista ao Band.com.br.

Experiência como vendedora e prisão do marido

Camila começou trabalhando nas feiras da madrugadas do Brás, distrito do centro da capital conhecido pela venda de roupas. Além disso, também foi modelo, colorista e maquiadora para pagar as contas.

No meio da correria de trabalho, conheceu o marido, que morava perto dela no Canindé, há cerca de cinco anos. “Ele era amigo do meu primo. Não demorou muito para a gente se apaixonar”.

Sete meses após o nascimento da segunda filha, sua rotina de correria dos trabalhos foi interrompida pela prisão do companheiro.

Durante visita ao marido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Sorocaba (SP), Camila percebeu a dificuldade das cunhadas - como são chamadas as esposas dos detentos entre elas - em se adequar às roupas específicas.

Naquele ano, 2022, entrou em vigor uma resolução da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo que determinava a padronização da vestimenta para visitantes em todo estado.

A medida incluiu a proibição de calças legging estampadas e camisetas com modelagem feminina, explica Camila.

A empresária, então, percebeu que tinha clientela disponível. "Pensei: 'Poxa, vendo roupa há anos, tenho experiência. Acho que posso oferecer algo para essas mulheres aqui'", conta. 

Durante suas visitas ao marido, ela começou a vender roupas adaptadas às novas exigências dos presídios. O sucesso das peças, com cores fortes e chamativas, foi imediato.

Hoje, Camila tem até loja física, que virou referência para as cunhadas. O ponto fica em frente ao terminal Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. O local é estratégico: dali saem os ônibus de excursão que levam os visitantes da capital para os presídios no interior.

Cada dia é uma batalha, mas ver o sorriso no rosto delas, quando encontram uma roupa que as faz sentir bem, vale o esforço, conclui.

Viralizou no TikTok 

Antes de conseguir a loja física, a empreendedora percebeu que poderia vender além das filas do presídio. Surgiu a ideia de divulgar seus produtos no Facebook, aproveitando os grupos de apoio às famílias de presidiários da rede social. 

O que antes acontecia apenas aos finais de semana, cresceu. "Comecei a ter pedidos durante a semana, para enviar para outras cidades. Além disso, fazia entregas nas estações de metrô de São Paulo", conta.

O crescimento motivou Camila a expandir sua presença nas redes sociais. Do Facebook, ela migrou para o TikTok, onde encontrou um público receptivo e engajado. 

Um vídeo de Camila viralizou e levou a demanda para um novo patamar. Hoje, na rede, ela tem conteúdos com quase 2 milhões de visualizações. "Não conseguia mais responder todo mundo no WhatsApp, então decidi criar um site para automatizar as vendas", ela relata. 

Imagem positiva das visitas

Segundo a vendedora, o que a diferenciou nas redes sociais de outras pessoas vendendo roupas no mesmo ramo foi a abordagem positiva. 

Nada de focar em saudade, espera para o fim da pena do amado e “liberdade vai cantar”, divulgado pelos concorrentes.

É uma escolha ir visitar, eu não estou lá obrigada. Então não vou ficar ali em posição de sofrimento ou me sentindo humilhada.

A empresária ainda explica que o dia da visita é uma ocasião importante para os detentos: “Eles se arrumam e esperam ansiosos por esse encontro. É essencial que as esposas se sintam bonitas e confiantes nesse momento". 

Quando começou a aparecer nos vídeos da sua marca - o que não era feito nesse tipo de negócio, segundo aponta - a empresária foi criticada nos comentários. "Falam absurdos sem saber o mínimo da minha história”, diz. 

Contudo, Camila diz não se importar com o que dizem. Atualmente, ela fatura cerca de R$ 30 mil por mês. O estoque, que antes ficava na sala da casa da avó, hoje está em sua loja física. A empreendedora também contratou uma funcionária, para ajudar nas operações do dia a dia.

Kits para os presos e sex shop

Além das roupas para as cunhadas, Camila percebeu outra oportunidade. "O estado não fornece roupas adequadas para os detentos. Eles recebem apenas roupas velhas e cobertores usados". 

Com isso, o Bazar da Bez  - a marca leva a abreviação do seu sobrenome, Bezerra - também começou a vender kits de uniformes para os presidiários, nos padrões determinados pela lei. 

Outra nova demanda que a loja passou a atender é a de lingeries e produtos de sex shop. Voltados a uma demanda específica das cunhadas: as visitas íntimas

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